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Pesquisador da Rede BIONORTE lidera estudo inédito sobre camarão nativo brasileiro e conquista reconhecimento internacional
O Brasil acaba de dar um passo estratégico rumo à aquicultura sustentável com base na própria biodiversidade. Um estudo inédito, liderado pelo professor Thales Passos de Andrade, docente da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede BIONORTE, revelou o imenso potencial do Penaeus monodon, conhecido como camarão-tigre-preto, identificado em populações de ocorrência natural ao longo do litoral brasileiro, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
Publicado no periódico internacional Aquaculture Research (Qualis A1), o trabalho realizou, pela primeira vez no país, uma análise genética e sanitária aprofundada da espécie. O objetivo: avaliar sua viabilidade zootécnica, genética e sanitária para fins de bioprospecção, biossegurança e sustentabilidade. Os resultados impressionaram: 1133 exames não identificaram nenhum dos 19 patógenos de interesse internacional testados, e os estoques demonstraram baixíssimo grau de endogamia (inbreeding de apenas 0,03), revelando um dos estoques mais promissores do mundo.
“Conseguimos provar que a população brasileira analisada está livre de importantes agentes patogênicos e tem estrutura genética adequada para programas de melhoramento. Isso abre uma nova fronteira para a aquicultura nacional, baseada em espécies nossas”, explica o professor Thales, que há mais de duas décadas atua com sanidade aquícola e biotecnologia.
O estudo é fruto de um esforço coletivo. Além do Laboratório de Diagnóstico de Enfermidades de Crustáceos (LAQUA-UEMA) – acreditado pelo INMETRO e referência nacional pertencente a Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios do INMETRO – a pesquisa envolveu a colaboração da doutoranda Amanda Gomes, das instituições australianas CSIRO e Genics, e da empresa Sabores da Costa/Aquacrusta, reconhecida pela produção de alimentos orgânicos. Os colaboradores foram: Francisco Rodrigues Norberto Junior (Marine Aquacrusta Ltd. & Flavors of the Coast, Acaraú, Brazil); Dr. James Kijas (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation, CSIRO-Australia); e Drs. Melony Sellars and Jeremy Brawner (Genics-Australia).
Para Thales, a utilização de espécies de ocorrência natural representa uma oportunidade estratégica para o país: “Reduzimos a dependência de estoques importados, mitigamos riscos sanitários e fortalecemos a economia local. É a bioeconomia na prática”.
Além da pesquisa em si, o estudo fortalece a integração entre ciência, setor produtivo e comunidades pesqueiras. “As comunidades litorâneas ganham protagonismo. A valorização de espécies de ocorrência natural promove segurança alimentar, geração de renda e inclusão nas cadeias produtivas de alto valor agregado”, completa.
Entre os maiores desafios apontados pelo pesquisador estão o acesso às áreas de coleta, a escassez de financiamento contínuo para pesquisa aplicada e a necessidade de políticas públicas voltadas à biossegurança e ao melhoramento genético de espécies de ocorrência natural. Thales defende, ainda, maior articulação entre o meio acadêmico e o setor produtivo, bem como a expansão de centros de pesquisa credenciados.
O LAQUA-UEMA, laboratório coordenado por Thales, atua não apenas em pesquisa, mas também em diagnóstico e assistência técnica ao setor aquícola. Os serviços prestados incluem auditorias em biossegurança, bioensaios, testes de quarentena, avaliação de insumos, suporte à exportação e inquéritos epidemiológicos – atendendo tanto produtores quanto instituições públicas.
“O futuro da aquicultura brasileira é promissor. Temos biodiversidade, competência técnica e capacidade de liderar uma nova geração de soluções baseadas em espécies de ocorrência natural, com tecnologias desenvolvidas no país e voltadas ao nosso povo”, afirma Thales.
Com essa conquista, a Rede BIONORTE, a UEMA e seus parceiros reafirmam o protagonismo brasileiro na construção de uma aquicultura ambientalmente segura, economicamente viável e socialmente inclusiva, alinhada às diretrizes da bioeconomia e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Data: 28/05/2025