Título | RECURSOS FLORESTAIS DA FLONA DE CAXIUANÃ – PARÁ: ETNOFARMACOLOGIA E ESTUDOS FITOQUÍMICOS PARA O CONTROLE DO AEDES AEGYPTI |
Data da Defesa | 29/06/2022 |
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Banca
Examinador | Instituição | Aprovado | Tipo |
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Dra. Carolina Bioni Garcia Teles | FIOCRUZ/RO | Sim | Membro | Dr. Ademar Alves da Silva Filho | UFJF | Sim | Membro | Dra. Maria Fani Dolabela | UFPA | Sim | Membro | Dra. Márlia Regina Celho Ferreira | INMA | Sim | Presidente | Dr. Daniel Pecoraro Demarque | USP | Sim | Membro |
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Palavras-Chaves | Plantas amazônicas; Conhecimento tradicional; Atividade larvicida; Atividade pupicida; Comunidade ribeirinha; Floresta Amazônica |
Resumo | Estudos etnofarmacológicos desenvolvidos na Amazônia são fundamentais para a valorização dos recursos florestais utilizados tradicionalmente pelas populações locais, bem como para o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao controle de vetores. Este trabalho objetivou documentar o conhecimento associado aos recursos naturais utilizados na Amazônia e conectá lo às tecnologias fitoquímicas buscando o desenvolvimento de novos produtos destinados ao controle do Aedes aegypti. Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas à 48 moradores da comunidade São Sebastião de Marinaú, localizada no entorno da Flona de Caxiuanã, no estado do Pará. Espécies utilizadas como repelentes e para o combate de doenças infecciosas e/ou parasitárias foram selecionadas e coletadas para análises fitoquímicas e biológicas contra o Ae. aegypti. Os ensaios com larvas L3 e pupas foram conduzidos em placas de 12 poços; a toxicidade em mosquitos adultos foi avaliada em garrafas (500 mL); e os de repelência espacial e irritação por contato em aparatos de cilindro metálico. A toxicidade para organismos não alvos foi avaliada no peixe-zebra. Para a determinação da CL50 utilizou-se o software Prisma 7.0. Extratos e frações ativos foram separados por técnicas cromatográficas. Os compostos isolados foram caracterizados por RMN de ¹H, ¹³C e N, UPLC-PDA-MS/MS e GCMS. Um total de 155 plantas (69% nativas) e 21 animais são utilizados na medicina tradicional desta comunidade, sendo 10 plantas utilizadas como repelentes. Os moradores apresentaram alto consenso para o uso de recursos naturais para tratar especialmente doenças do sistema digestivo. Os chás obtidos por decocção de folhas e banha de animais se destacam para tratar doenças, enquanto que os insetos são repelidos utilizando principalmente banhos e “fumacês” de preparados com cascas vegetais. Carapa guianensis destacou-se por seu uso medicinal e repelente. Dos 62 extratos obtidos, 15 causaram mortalidade ≥ 80% em larvas (72 h), com destaque para aqueles obtidos dos frutos de Diospyros guianensis, das sementes de C. guianensis e do lenho de Aspidosperma nitidum. O extrato de C. guianensis apresentou atividade larvicida com efeito residual até o 10° dia de tratamento. Desta amostra foram isolados ácidos graxos, 6α-acetoxigedunina e 7-desacetoxi-7-oxogedunina. Dentre os sete compostos identificados no extrato de D. guianensis, a plumbagina, os ácidos ursólico e oleanólico foram fortemente larvicidas, a betulina e o ácido betulínico, pupicidas. O compostoaricina, isolado do extrato de A. Nitidum também apresentou atividade larvicida. O óleo essencial da resina de Hymenaea courbaril apresentou-se larvicida, adulticida e irritante por contato, atividades que podem ser atribuídas à presença de (-) – trans cariofileno, óxido de cariofileno e α-humuleno, que, isoladamente, exibiram efeitos larvicidas e de irritação por contato. Os extratos de C. guianensis, Helicostylis tomentosa, Coix lacryma-jobi e de Endopleura uchi, assim como o óleo essencial de H. courbaril e o composto aricina não exibiram embriotoxicidade significativa ao peixe-zebra. Portanto, este estudo documenta diversas plantas e animais importantes para a subsistência da comunidade de Marinaú, que devem ser alvo de investigações posteriores. Além disso, demonstra que o conhecimento tradicional das plantas amazônicas aliado ao fracionamento bioguiado constitui uma estratégiapara o desenvolvimento de inseticidas ecologicamente seguros para o controle do Ae. aegypti. |
Abstract | Ethnopharmacological studies carried out in the Amazon are fundamental for the valorization of forest resources traditionally used by local populations, as well as for the development of research related to vector control. The objective of this study was to document the São Sebastião de Marinaú riverside community’s ethnoknowledge of natural resources used in traditional medicine and performed bioguided fractionation to isolate the compounds active against the arboviral disease vector Ae. aegypti. Semi-structured interviews were conducted with 48 residents of the Marinaú community located in the Caxiuanã National Forest, in the Amazon biome, Pará, Brazil. The plants used as repellents and against infectious or parasitic diseases were selected and collected for were subjected to phytochemical studies guided by Ae. aegypti assays. Larvicidal and pupicidal assays were conducted in 12-well plates; adulticide tests carried out in bottles (500 mL); and those of spatial repellency and contact irritation in metallic cylinder apparatus. Toxicity to non-target organisms was evaluated in zebrafish. The CL50 values were obtained using the Prisma 7.0 software. Active extracts and fractions were separated by chromatographic techniques. Isolated compounds were characterized by NMR, LC/MS, and GC/MS. A total of 155 plants (69% native) and 21 animals are used in the traditional medicine of this community, with 10 plants used as repellents. Residents showed a high consensus use of natural resources to treat, mainly, diseases of the digestive system. Teas obtained by decoction of leaves and animal fat stand out to treat diseases, while insects are repelled using mainly baths and “smoke” prepared with barks. Carapa guianensis is important for its medicinal use as a repellent. Of the 62 extracts obtained, 15 caused mortality ≥ 80% in larvae (72 h), displayed those from the Diospyros guianensis fruits, C. guianensis seed shells, and A. nitidum wood. The C. guianensis extract showed larvicidal activity with residual effect until the 6th day of treatment. From this sample, fatty acids, 6α-acetoxygedunine, and 7- desacetoxy-7-oxogedunine were isolated. Among the seven compounds identified in the extract of D. guianensis, the plumbagin, ursolic and oleanolic acids displayed larvicidal activity. Oleanolic, ursolic, and betulinic acids, and betulin were considered pupicidal. Aricine, the major alkaloid isolated from A. nitidum wood, also presented larvicidal activity. The essential oil of Hymenaea courbaril resin showed larvicidal, adulticidal, and contact irritation activities, activities that can be attributed to the presence of (-) – trans caryophyllene, caryophyllene oxide, and α-humulene, which were also larvicidal and irritant to the mosquito. The C. guianensis, Helicostylis tomentosa, Coix lacryma-jobi, and Endopleura uchi extracts, as well as the essential oil of H. courbaril and the compound aricin did not exhibit significant embryotoxicity in zebrafish. Therefore, this study document a wide of animals and plants that are important for the subsistence of the Marinaú community and must be the target of the morebiological and chemical investigations. Furthermore, this traditional knowledge of Amazonianplants combined with bioguided fractionation constitutes a strategy for the development of eco- friendly insecticides to control Ae. aegypti. |