Resumo | Estudos etnobotânicos relatam que Myrcia guianensis (Myrtaceae), pertencente à um grupo de plantas conhecido como pedrá-ume-caá ou insulina vegetal, é utilizada na forma de chá para tratar diversas patologias, incluindo diabetes, doença metabólica que leva a produção constante de radicais livres. Dentre os estudos com espécies dessa família, há um número considerável de trabalhos que evidenciam a capacidade antioxidante das mesmas. Mas pesquisas que comprovem a utilização etnobotânica ou mesmo outras atividades biológicas de M. guianenis, são escassas. Portanto, considerando tal escassez de estudos farmacológicos aliados ao uso e importância da pesquisa com drogas vegetais padronizadas, este trabalho teve como objetivo padronizar o extrato aquoso das folhas de M. guianensis e avaliar seu potencial antioxidante e citotóxico. A padronização da droga vegetal e do extrato vegetal foi realizada de acordo com a Farmacopeia Brasileira. Após a seleção da água como líquido extrator, escolhida em função da quantificação de compostos fenólicos, a droga vegetal de M. guianensis foi submetida à digestão a temperatura de 70°C, sendo posteriormente filtrada e liofilizada, obtendo-se assim o extrato aquoso de M. guianensis (EAMg) para ser utilizado em todos os ensaios físico-químicos e testes in vitro. O teor de compostos fenólicos (taninos totais, flavonóides e fenóis totais) do EAMg foi determinado por ensaios colorimétricos. Foram realizados diferentes ensaios antioxidantes in vitro: DPPH (capacidade do sequestro do radical 1,1-diphenyl-2-picryl hydrazyl), FRAP (potencial antioxidante de redução do ferro), descoramento do β-caroteno e capacidade antioxidante em células de fibroblastos humanos da linhagem MRC-5. A citotoxicidade do extrato foi avaliada em leveduras Saccharomyces cerevisiae e em células mononucleares humanas de sangue periférico (PBMC). Os parâmetros físico-químicos que envolveram a padronização da droga vegetal das folhas de M. guianensis estão dentro dos limites estabelecidos pela Farmacopéia Brasileira. A quantificação dos compostos fenólicos presentes no extrato aquoso foi de 20,85±1,09% de fenois totais, 16,37±1,71% de taninos totais e 0,45±0,10% de flavonoides. O EAMg apresentou potencial antioxidante em todas as metodologias testadas. No ensaio de DPPH, o extrato (20μg/mL) foi capaz de reduzir até 95,63±0,5% o radical testado. Sob a mesma concentração, o EAMg também apresentou elevado potencial antioxidante frente ao método β-caroteno/ácido linoleico, inibindo 81,44% da peroxidação lipídica. Na análise de redução do íon ferro, o EAMg e o padrão tiveram os valores de absorbância aumentados em função do aumento da formação do complexo TPTZ e das concentrações, indicando elevada capacidade redutiva do EAMg. Na análise da atividade antioxidante em células de fibroblastos humanos, o EAMg exibiu atividade antioxidante em todas as concentrações. No entanto, não foi observado um padrão dose-resposta, pois a partir da concentração de 10 μg/mL, o percentual de inibição não apresentou diferenças significativas, o que demonstrou não ser necessário a utilização de concentrações acima de 10 μg/mL. O EAMg não demonstrou ser tóxico para células de S. cerevisiae e células normais de indivíduos sadios. Portanto, para as metodologias testadas e diante dos resultados encontrados, o extrato aquoso de M. guianensis possui compostos antioxidantes que permitem sua utilização segura e eficaz na forma de chá, podendo assim, ser empregado como complementação no tratamento de doenças metabólicas para o combate aos radicais livres. |
Abstract | Ethnobotanical studies show that Myrcia guianensis (Myrtaceae), belonging to a group of plants known as pedrá-ume-caá or insulin, is used in the form of tea to treat various diseases, including diabetes, a metabolic disease that leads to the constant production of free radicals. Among the studies with species of this family, there is a considerable number of studies evidencing the antioxidant capacity of species of this family. But research that proves its ethnobotanical use or even other biological activities, are scarce. Therefore, considering the scarcity of pharmacological studies with this species together with the use and importance of the research with standardized plant drugs, this work had as objective to standardize the aqueous extract of the leaves of M. guianensis and to evaluate its antioxidant and cytotoxic potential. The standardization of the plant drug and plant extract of M. guianensis was performed according to the Brazilian Pharmacopoeia. After selecting the water as the extracting liquid, chosen according to the highest amount of phenolic compounds, the M. guianensis plant drug was subjected to digestion at 70 ° C and subsequently filtered and lyophilized, thus obtaining the dry extract (EAMg) to be used in all physicochemical and in vitro tests. The quantification of the phenolic compounds present in the aqueous extract was 20.85 ± 1.09% of total phenols, 16.37±1.71% of total tannins and 0.45 ± 0.10% of flavonoids. The content of phenolic compounds of the aqueous extract of M. guianensis was determined by colorimetric assays. In vitro antioxidant assays were performed as DPPH (1,1-diphenyl-2-picryl hydrazyl radical sequestration capacity), FRAP (antioxidant potential of iron reduction), β-carotene bleaching as well as antioxidant test in human fibroblasts from the MRC-5 lineage. The cytotoxicity of the extract was evaluated in yeast Saccharomyces cerevisiae and in human peripheral blood mononuclear cells (PBMC). The physicochemical parameters involved in the standardization of the plant drug of the leaves of M. guianensis are within the limits established by the Brazilian Pharmacopoeia. EAMg presented antioxidant potential in all the protocols used. In the DPPH assay, the extract (20 μg/mL) was able to reduce up to 95.63 ± 0.5% of the radical tested. Under the same concentration, the EAMg also presented a high antioxidant potential against the β-carotene/linoleic acid method, inhibiting 81.44% of the lipid peroxidation. In the FRAP assay, the aqueous extract of M. guianensis showed results similar to the Trolox standard, as absorbance values increased as a function of increased TPTZ complex formation and increased EAMg concentration. The activity antioxidant tested in human fibrils of the MRC-5 lineage presented similar results to the quercetin standard. The extract was not shown to be toxic to S. cerevisiae cells and normal cells from healthy subjects. Therefore, these results ensure that the aqueous extract of M. guianensis has antioxidant compounds, which allows the safe use of this species in the form of tea, and can thus be used as a complement in the treatment of metabolic diseases to combat free radicals. |