Título | Biodiversidade e a segurança alimentar de quilombolas no Vale do Guaporé, Mato Grosso, Amazônia Meridional. |
Data da Defesa | 02/08/2017 |
Download | Em sigilo |
Banca
Examinador | Instituição | Aprovado | Tipo |
---|
Dra. Carolina Joana da Silva - Presidente da Banca Examinadora. | Universidade do Estado de Mato Grosso | Sim | | Dra. Maria Antônia Carniello - Membro da Banca Examinadora. | Universidade do Estado de Mato Grosso | Sim | | Dra. Maria Corette Pasa - Membro da Banca Examinadora. | Universidade Federal de Mato Grosso | Sim | | Dr. Flávio Bezerra Barros - Membro da Banca Examinadora. | Universidade Federal do Pará | Sim | | Dr. Germano Guarim Neto - Membro da Banca Examinadora. | Universidade Federal de Mato Grosso | Sim | |
|
Palavras-Chaves | Etnobiologia;Diversidade Biológica;Bioma Amazônico |
Resumo | Esta pesquisa, inserida na área de concentração do projeto “Conhecimento, Uso Sustentável e Bioprospecção da Biodiversidade na Amazônia Meridional”, pauta-se nos pressupostos da Etnobiologia, com o objetivo de conhecer a biodiversidade utilizada na dieta alimentar de comunidades quilombolas do município de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Amazônia Meridional, bem como as unidades de paisagem de ocorrência das espécies e as ameaças à sua integridade. Com abordagem qualitativa e quantitativa, a pesquisa utilizou-se de técnicas como a observação participante, bola de neve, entrevista semiestruturada, lista livre, mapa falante e levantamentos da flora e da fauna. A análise do domínio cultural, a partir da lista livre, foi feita por meio do índice de saliência de Smith, com o uso do software ANTHROPAC 4.0. O domínio cultural dos quilombolas está relacionado à suas trajetórias de vida, associadas às atividades de subsistência e aos processos históricos de uso e ocupação, que permitiram saberes e práticas para a permanência em seus territórios. O estudo está organizado em quatro sessões com uma introdução e os referenciais teóricos sobre os temas abordados na pesquisa; os caminhos metodológicos; os resutados com a descrição das comunidades quilombolas em uma perspectiva etnobiológica, o domínio cultural sobre a diversidade de espécies vegetais utilizadas para alimentação, o domínio cultural sobre a diversidade dos animais da fauna regional que compõe a dieta alimentar, e os territórios tradicionalmente ocupados, seus macrohabitats, os usos da terra e os impactos sobre a soberania alimentar dos quilombolas; e as considerações e perpectivas deste estudo. Como resultados os quilombolas expressaram o domínio cultural de 94 espécies de plantas e 59 de animais de uso alimentar encontrados nas unidades de paisagens manejadas, em seus sistemas agroflorestais, e naturais, como a Floresta Amazônica, o Cerrado e a área úmida do Alto Guaporé. Das 94 espécies da flora indicadas, 87 foram identificadas e estão distribuídas em 30 famílias botânicas. A canjiquinha (Byrsonima verbascifolia) e a mangaba (Hancornia speciosa) estão entre as principais no domínio cultural dos quilombolas. Os vegetais foram mais indicados para o consumo in natura e dentre os macrohabitats destacaram a importância de seus sistemas agroflorestais. A fauna, representada por 59 espécies de animais, considerada um importante recurso alimentar e fonte de proteína às comunidades, foi distribuída em três classes de vertebrados e as aves acumularam maior riqueza com 29 espécies. Dentre os animais o catete (Pecari trajacu) e o porco do mato (Tayassu pecari) estão entre os mais representativos em seu domínio cultural, e destacaram as matas como importante macrohabitat de ocorrência das espécies indicadas. Os quilombolas reconhecem a importância dos ciclos hidrológicos para a fenologia dos vegetais e para os hábitos, comportamentos e reprodução dos animais, e da conservação dos macrohabitats em que ocorrem para a garantia e oferta permanente de alimento. Em seu contexto histórico de uso e ocupação percebem os processos associados à conversão dos ecossistemas em agropecuária, os quais estão modificando suas interações e estratégias de uso tradicional em seus territórios. O conhecimento ecológico tradicional desses quilombolas representa outras possibilidades de uso e ocupação do território que é compreendido por suas representações simbólicas e históricas, que tem permitido sua existência, resistência e continuidade. |
Abstract | This research, inserted in the area of concentration of the project "Knowledge, Sustainable Use and Bioprospection of Biodiversity in the Southern Amazon", is based on the assumptions of Ethnobiology, with the objective of knowing the biodiversity used in the diet of quilombo communities in the municipality of Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Southern Amazonia, as well as the landscape units of occurrence of the species and threats to their integrity. With a qualitative and quantitative approach, the research used techniques such as participant observation, snowball, semi-structured interview, free list, speaking map and surveys of flora and fauna. The analysis of the cultural domain, from the free list, was made using Smith`s salience index, using ANTHROPAC 4.0 software. The cultural domain of the quilombolas is related to their life trajectories, associated to the subsistence activities and the historical processes of use and occupation, that allowed knowledge and practices for the permanence in their territories. The study is organized in four sessions with an introduction and theoretical references on the topics addressed in the research; methodological paths; the cultural domain on the diversity of plant species used for food, the cultural domain on the diversity of the animals of the regional fauna that compose the diet, and the territories traditionally occupied, their macrohabitats, uses of land and impacts on the food sovereignty of quilombolas; and the considerations and perspectives of this study. As a result, the quilombolas expressed the cultural domain of 94 species of plants and 59 of animals of alimentary use found in the units of managed landscapes, in their agroforestry and natural systems, such as the Amazon Forest, the Cerrado and the humid area of Alto Guaporé. Of the 94 species of flora indicated, 87 were identified and distributed in 30 botanical families. The canjiquinha (Byrsonima verbascifolia) and the mangaba (Hancornia speciosa) are among the main ones in the cultural domain of the quilombolas. The vegetables were more suitable for in natura consumption and among the macrohabitats emphasized the importance of their agroforestry systems. The fauna, represented by 59 species of animals, considered an important food resource and source of protein to the communities, was distributed in three classes of vertebrates and the birds accumulated greater wealth with 29 species. Among the animals the catete (Pecari trajacu) and the porco do mato (Tayassu pecari) are among the most representative in their cultural domain, and highlighted the forests as important macrohabitat of occurrence of the indicated species. Quilombolas recognize the importance of hydrological cycles for the phenology of vegetables and for the habits, behaviors and reproduction of animals, and the convergence of macrohabitats in which they occur for the guarantee and permanent supply of food. In their historical context of use and occupation they perceive the processes associated to the conversion of ecosystems in agriculture, which are modifying their interactions and strategies of traditional use in their territories. The traditional ecological knowledge of these quilombolas represents other possibilities of use and occupation of the territory that is understood by its symbolic and historical representations, that has allowed its existence, resistance and continuity. |